Olá a todos! Hoje um pouco de informação sobre a nossa profissão. Um abraço MLD Há dois séculos que se traduz intensamente em Portugal, mas só há uma década, década e meia, se fala no assunto em público. E a maioria dos tradutores em Portugal, ao longo dos tempos, não tem formação em tradução. Outra questão prévia, e polémica, é saber se a tradução científica e técnica pede uma formação diferente da literária. Fazem-se tradu... See more Olá a todos! Hoje um pouco de informação sobre a nossa profissão. Um abraço MLD Há dois séculos que se traduz intensamente em Portugal, mas só há uma década, década e meia, se fala no assunto em público. E a maioria dos tradutores em Portugal, ao longo dos tempos, não tem formação em tradução. Outra questão prévia, e polémica, é saber se a tradução científica e técnica pede uma formação diferente da literária. Fazem-se traduções como recurso para reforçar o orçamento ou enquanto se espera a grande oportunidade. E também há os que se iniciam na escrita literária através das traduções e, mais tarde, ao darem o salto para o estrelato, omitem sistematicamente essa fase da vida, como se fosse algo de que se envergonham...São estas atitudes que contribuem para o desprestígio da actividade, tanto a nível dos editores e do público que multiplica estas opiniões, como do próprio tradutor que assim demonstra uma bem frouxa auto-estima. Outro factor histórico que terá contribuído para este estado de coisas é a nossa tradição de pouca exigência no ensino e conhecimento das línguas estrangeiras, resultando numa inconsciência confrangedora em relação aos requisitos do acto de traduzir. Há que reconhecer um progresso nas últimas duas décadas. A actividade e a profissão ganharam prestígio, nomeadamente porque se cumpriu o desejo de Herculano - os "eruditos" passaram a interessar-se pela tradução - , há apoios institucionais de peso, a Universidade ocupou algum espaço da formação, e isto sem desprimor para Escolas pioneiras donde saíram as primeiras gerações. A formação de tradutores envolve, pelo menos, três vertentes. - uma ideia de tradução, que deve ter por base: a) uma forte consciência da língua, do lastro das palavras, da história e do tempo "agarrado" às palavras; b) a sensibilidade à construção do sentido a nível da frase e do texto, para o que os dicionários são manifestamente insuficientes; c) o conhecimento de que qualquer tradução vem preencher lacunas e necessidades da cultura de chegada, pelo que não é uma actividade tão secundária como se julga. - uma concepção de tradutor, que tem vindo a evoluir lentamente no sentido da sua visibilidade e consequente responsabilidade; assistimos hoje a uma relativa dessacralização do original, do que resulta que o tradutor é cada vez menos servo do texto de partida, cada vez mais criador de um novo texto, de novas palavras e de novas ideias, ou seja, um factor de evolução. - uma ideia de formação, da qual decorre o respectivo enquadramento institucional. Esta vertente, porém, ao contrário das anteriores, levanta as maiores interrogações. Pode-se, de facto, ensinar a traduzir? O que é que é ensinável em tradução? Como nas artes e no desporto, por exemplo, a existência de certas capacidades, dons ou talentos, como lhe queiramos chamar, ajuda muito... De qualquer modo, podem-se adquirir conhecimentos nas muitas áreas que se cruzam na tradução, e podem-se treinar as várias competências envolvidas. No essencial, a formação de tradutores consiste numa caminhada de consciencialização àcerca da natureza e da função da actividade que se vai desenvolver. Tudo o que sirva para reforçar a auto-estima, a visibilidade e o sentido da responsabilidade do tradutor, levando-o a sentir-se cada vez mais autor, é de promover. O Plano de Estudos que ocupa os cinco anos (dez semestres) da Especialização em Tradução do Curso "Língua Portuguesa + Línguas Estrangeiras Aplicadas", da Universidade Católica Portuguesa, pólo de Lisboa. Tentando uma sistematização por três grandes áreas: Competência linguística a) Línguas: Inglês (10 semestres) + 2ª língua estrangeira (10 sem.) b) Conhecimento científico da língua e do texto Análise Textual - 4 sem. Linguística Contrastiva - 2 sem. c) Terminologia temática Linguagens Específicas - 2 sem. (Economia e Direito) Tradução Especializada - 2 sem. Competência cultural e literária nas três línguas a) Cultura Portuguesa - 2 sem. Literatura Portuguesa (sec. XIX e XX) - 2 sem. Cultura Inglesa - 2 sem. Cultura da Outra Língua Estrangeira - 2 sem. b) Competência cultural especializada Instituições de Direito Público - 1 sem. Introdução à Economia - 1 sem. Economia Internacional/Comércio Internacional - 1 sem. Formação específica da área da tradução Tradução Generalista - 1 sem. por cada língua História da Tradução - 1 sem. Teorias da Tradução I e II - 4 sem. Tradução em Portugal - 2 sem. Crítica da Tradução - 2 sem. Tradução Literária - 2 sem. Tradução Especializada - 2 sem. Projecto (Seminário) - 2 sem. a Tradução em Portugal justifica-se plenamente pelo facto de ser a cultura portuguesa aquela em que os estudantes vão trabalhar, pelo que convem ter uma perspectiva histórica da sua actividade; a Crítica da Tradução destina-se a treinar uma das possíveis vertentes da actuação do tradutor, a de crítico, sobretudo num país onde, a nível dos meios de comunicação social não existe crítica de tradução, apenas praticada, e raramente, dentro da Universidade; finalmente o Projecto pretende levar os alunos a planear e executar uma tradução completa (não literária), em todas as fases do processo, até à sua publicação. Acrescente-se que em todas estas cadeiras se pratica sempre a tradução, a partir dos textos em estudo - e seguindo um método: explicação de conteúdos, levantamento de dificuldades, sua explicação e propostas de solução, só depois se passando à escrita. Estas matérias são o cimento, a base da prática da tradução. O resto, que é quase tudo, tem o tradutor de fazer por si próprio, incluindo a redacção irrepreensível em português. Os alunos sabem, desde o início do curso, que o tradutor, tal como o professor, o médico ou o advogado, pode ter completado uma formação básica, mas, na aldeia global cujo lema é a mudança e a inovação a um ritmo vertiginoso, terá de ser toda a vida um estudante, um investigador e um criador. (Representação da Comissão Europeia em Portugal (SdT) –Universidade Católica) ▲ Collapse | |