Português de Angola
Thread poster: António Ribeiro
António Ribeiro
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Sep 24, 2004

A propósito de algumas perguntas que foram ontem feitas aqui no ProZ, quero aproveitar a oportunidade para partilhar convosco um texto muito interessante escrito em português de Angola. De realçar que até possui um certa qualidade. O referido texto apareceu recentemente numa revista publicada em Angola.

Aqui vai:

Mão amiga fez-me chegar este delicioso texto, que eu desconheço o autor, sobre os novos funerais em Luanda.

Eis o retrato social da terra o
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A propósito de algumas perguntas que foram ontem feitas aqui no ProZ, quero aproveitar a oportunidade para partilhar convosco um texto muito interessante escrito em português de Angola. De realçar que até possui um certa qualidade. O referido texto apareceu recentemente numa revista publicada em Angola.

Aqui vai:

Mão amiga fez-me chegar este delicioso texto, que eu desconheço o autor, sobre os novos funerais em Luanda.

Eis o retrato social da terra onde o impossível é sempre possível. Sirvam-se, por favor:

«Em Luanda agora é assim: as pessoas produzem-se para ir a um funeral, como se fosse uma festa de gala. Se antes o branco e o preto eram as cores para os actos fúnebres, agora, as damas bazam até de vermelho, rosa, amarelo, laranja, quer dizer, só as cores mais "cheguei!" para chamar mesmo a atenção.

Na verdade, os óbitos transformaram-se em locais predilectos para desenvolver uma paquera, na ausência de locais públicos de lazer que proporcionem encontros. Afinal, quem não tem cão, nem gato, caça com rato.

Há quem diga que as damas vão para ver os boss's da família, ficam de olho bem aberto para marcar qual é o tio que dá mais cumbú. Depois jogam todo o seu charme para cima do kota não importando se casado, solteiro ou viúvo. Já os homens parecem ser mais discretos: bazam a estes encontros para beber de graça, consentir uma paquera e, claro, pitar um coxe, afinal, de graça, bar aberto, boca-livre, não faz mal a ninguém.

Os óbitos há muito que deixaram de ser cerimónias nostálgicas em que os parentes e amigos se encontram para consolar quem perdeu um ente. As mulalas das kotas deram lugar ao desfile de moda e posses.

A expressão "ché quez da caldo" já ficou ultrapassada. A canjica e o caldo foram superados pelos mufetes, muambas, bolos, doces diversos, rissóis, tortas e pudins à maneira. Da kissangua, coitada, já nem se fala mais, nem nos círculos mais conservadores das famílias. De vez em quando, aparece nas praças e paragens de cadongueiro, mas com novo nome para disfarçar: "Sumol em saco" Nada de coisa de pobres (kissangua).

Nos óbitos, a onda agora é cuca, sagres, castle, carlsberg, coca-cola e associadas, sumol e até a forasteira kiss, porque as youk's sumiram do mapa.

O óbito na cidade de Kianda é festa grande. Já há quem prefira patar nos kombas do que ir nos casamentos. Nos óbitos não olham nas caras nem querem saber se é parente do morto ou da morta para te servirem. Só falta mesmo contratar DJ's para animar o bo... digo o óbito, com músicas da igreja, já que os kuduristas fazem questão de cantar daquele jeito.

Morrer na Nguimbe não é negócio para qualquer um. E não pára por aqui. O que dá mais pontos é o lugar onde será o enterro. Tem que ser no ALTO DAS CRUZES ou no SANTA ANA porque o resto é mesmo resto. O óbito pode ter tudo, mas se o funeral não for nestes lugares perde todos os pontos.

Diante disso, começa um novo dilema já que conseguir espaço nestes cemitérios não é coisa fácil e carece de cunha forte, mas também, 14 ou camama não são cemitérios para vip's, tipo não vão ser comidos por salalés. Então o defunto chegam mesmo a ficar uma semana, ou mais, à espera que se decida sobre o seu próximo endereço.»
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Ivana de Sousa Santos
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Faz lembrar um livro do Pepetela que eu li Sep 24, 2004

Olá António.

Adorei o texto! Fez-me lembrar um livro do Pepetela que li o mês passado - "O cão e os caluandas" - e que retrata a realidade angolana no período pós-colonial. Ri-me do princípio ao fim. Não sei se o António ou alguém já o leu, mas é um livro que recomendo vivamente. Então para quem nasceu em Angola e conhece os hábitos, a maneira de falar e o vocabulário utilizado, o livro é um mimo. Acho que ainda me diverti mais com a leitura porque a fiz com "pronún
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Olá António.

Adorei o texto! Fez-me lembrar um livro do Pepetela que li o mês passado - "O cão e os caluandas" - e que retrata a realidade angolana no período pós-colonial. Ri-me do princípio ao fim. Não sei se o António ou alguém já o leu, mas é um livro que recomendo vivamente. Então para quem nasceu em Angola e conhece os hábitos, a maneira de falar e o vocabulário utilizado, o livro é um mimo. Acho que ainda me diverti mais com a leitura porque a fiz com "pronúncia angolana".

Tenho de "bazar" (para os menos entendidos, este termo é angolano, apesar de ser muito utilizado em Portugal).

Um bom dia para todos.
Ivana
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Petepeta - o melhor autor angolano Sep 28, 2004

Ivana de Sousa Santos wrote:

Adorei o texto! Fez-me lembrar um livro do Pepetela que li o mês passado - "O cão e os caluandas" - e que retrata a realidade angolana no período pós-colonial. Ri-me do princípio ao fim. Não sei se o António ou alguém já o leu, mas é um livro que recomendo vivamente.


Tanto quanto sei, li os livros todos do Pepetela, a não ser que ele tenha publicado algum desde Julho do ano passado, última vez que estive em Lisboa. Para mim, o seu melhor livro é o "Maiombe".

A literatura angolana possui muito bons autores. Tenho pena de estar tão longe e só ter oportunidade de adquirir alguns livros quando vou a Portugal.

Um abraço,

António


 
Ivana de Sousa Santos
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Não sei qual a data de "O cão e os caluandas" Sep 28, 2004

Foi a minha mãe quem me emprestou o livro e não tomei atenção. Sei que é um livro onde constam relatos dos anos 80 e que muitas das pessoas pediram ao autor para não publicar aquilo enquanto fossem vivos. Então ele publicou só nos fins dos anos 90 ou nestes primeiros anos de 2000. Não tenho mesmo a certeza!

O António deve encontrar sites na internet onde possa comprar livros portugueses. Não sei é se distribuirão para a Austrália. Se não, peça a alguém que lhos envi
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Foi a minha mãe quem me emprestou o livro e não tomei atenção. Sei que é um livro onde constam relatos dos anos 80 e que muitas das pessoas pediram ao autor para não publicar aquilo enquanto fossem vivos. Então ele publicou só nos fins dos anos 90 ou nestes primeiros anos de 2000. Não tenho mesmo a certeza!

O António deve encontrar sites na internet onde possa comprar livros portugueses. Não sei é se distribuirão para a Austrália. Se não, peça a alguém que lhos envie daqui, que é o que eu faço para a minha mãe que está na Suíça (isto quando ela não consegue encontrar na livraria portuguesa). Gasta um bocadinho nos portes mas tem literatura portuguesa!

Um abraço
Ivana
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António Ribeiro
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Exorbitantes custos dos portes Sep 29, 2004

Ivana de Sousa Santos wrote:

O António deve encontrar sites na internet onde possa comprar livros portugueses.

Gasta um bocadinho nos portes mas tem literatura portuguesa!

Ivana


A FNAC faz esse serviço, mas o mínimo que se cobram para enviar um livro ou um CD é qualquer coisa como 40 e tal Euros!!!!

Já fui escaldado com 86 Euros de portes numa encomenda de 71 Euros!!!

De qualquer maneira, sempre que vou a Portugal dou uma volta pelas livrarias e regresso carregado com livros.

[Edited at 2004-09-29 22:08]


 


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