Belo escândalo põe lenha na fogueira brasileira
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Rafa Lombardino
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Jun 29, 2002

Texto escrito por Mark Zeigler, publicado no San Diego Union Tribune. Original disponível no site http://www.sduniontribune.com/sports/soccer/20020628-9999_1s28wcup.html



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Talvez tenha sido por causa da derrota de 3x0 para a França na final da Copa do Mundo de 1998. Ou talvez pela derrota para o
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Texto escrito por Mark Zeigler, publicado no San Diego Union Tribune. Original disponível no site http://www.sduniontribune.com/sports/soccer/20020628-9999_1s28wcup.html



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Talvez tenha sido por causa da derrota de 3x0 para a França na final da Copa do Mundo de 1998. Ou talvez pela derrota para o Paraguai, ou para o Chile, ou para o Equador. Ou as derrotas para a Coréia do Sul, Austrália e Honduras. Ou talvez a derrota nas quartas-de-final das Olimpíadas de 2000 para o time de Camarões, que contava com apenas nove jogadores em campo.

Ou talvez seja a situação ridícula pela qual os times domésticos passam. Jogos cancelados horas antes do chute inicial. ‘Multidões’ de mil pessoas no famoso estádio do Maracanã, cuja capacidade é de 140 mil pessoas. Treinadores demitidos depois de perderem uma partida e antes mesmo de recolherem seus pertences nos vestiários. Torcedores subindo pelas paredes — literalmente — dos centros de treinamento para ‘quebrar o pau com’ jogadores.

A verdade é que, em alguma altura do campeonato, os brasileiros decidiram fazer algo impensável: admitir que há problemas com a única instituição que governa realmente o povo, com uma parte da sociedade que está imune ao azar, com a religião nacional que é o futebol nacional.

Os brasileiros tiveram que engolir um contrato emitido pela federação nacional de futebol, segundo o qual era obrigado comprar leite de uma empresa cujo dono é o próprio presidente da tal federação. Tiveram que engolir os três milhões de dólares ganhos por um certo treinador, que sonegou o montante na hora de fazer o imposto de renda. Tiveram que engolir as mansões no Rio de Janeiro e na Flórida, compradas pelo presidente de um dos clubes mais famosos do país que, por um acaso, estava falindo. Tiveram que engolir o dia em que o ônibus que transportava a seleção brasileira quebrou no meio do caminho quando ia para o treinamento e um dos jogadores mais ricos do mundo foi obrigado a ‘camelar’ até o CT.

Depois de tudo isso, os brasileiros decidiram vistorias a ‘fábrica futebolística’ e descobrir do que o futebol nacional era feito. Decidiram pegar uma lanterna e desvendar os porões do futebol. Chegando lá, recuaram, arregalaram os olhos e expressaram todo o seu asco pelo que viram: cupins. A ‘fábrica futebolística’ estava apodrecendo.



Talvez o maior e único testamento deixado aos brasileiros pelo antigo ‘futebol arte’ seja o fato de o Brasil disputar a final da Copa do Mundo no próximo domingo em Yokohama, Japão. Mesmo que essa final venha depois de uma campanha horrível nas eliminatórias. Mesmo depois da contratação de quatro técnicos e 62 jogadores para a preparação do time. Mesmo depois de seis derrotas para timecos durante as eliminatórias. Mesmo depois do que veio à tona sobre a ‘saúde’ do esporte-paixão. Mesmo depois de uma batalha que causou discórdias e alcançou não só o alto escalão governamental, mas também as raízes mais profundas da sociedade. Mesmo depois de tanta roupa suja ter sido acumulada nesse cenário da cultura brasileira.

“Disse aos meus jogadores que, no meu ponto de vista, eles já são campeões depois de tudo pelo que passaram para chegar até aqui”, disse o técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari. “No domingo, quero que eles joguem sem sentir pressão. Quero que estejam cientes da responsabilidade, mas sem ficarem sufocados.”

O problema é que, no Brasil, 100% da população é composta por torcedores de futebol — até mesmo os membros do congresso, que tem o poder de parirem intimações judiciais. Desde que o atual ‘fenômeno’ Ronaldo teve um tipo misterioso de convulsão depois acordou da soneca que tirava na tarde da final da Copa de 98 e o Brasil perdeu de 3x0 para a França, o congresso sentiu-se obrigado a dar início a investigações.

Há quem diga que os congressistas estavam preocupados com o fato de que o futebol corresse o risco de se tornar uma festa desagradável. Outros dizem que tudo não passou de uma tentativa de levar Ronaldo aos tribunais para que pudessem descolar alguns autógrafos. De uma forma ou de outra, eles cutucaram dali e de lá e empurraram o assunto com a barriga.

Aí o Brasil perdeu para os nove Camarões em campo na final da Olimpíada de 2000, pouco antes de ser derrotado por 2x1 pelo Paraguai e por 3x1 pelo Chile nas eliminatórias da Copa. A situação estava ficando preta demais. Tanto o alto como o baixo escalão deram início a investigações separadas, usando de seus poderes para ter acesso a contas bancárias, impostos de renda e ligações telefônicas.

A coisa toda recebeu o tratamento prestado aos julgamentos de mafiosos nova-iorquinos, com provas de corrupção acumuladas e desculpas esfarrapadas para que certas pessoas não comparecessem à corte — o criminoso n.º 1 dessa história convenceu um médico a emitir um atestado, segundo o qual seu paciente sofria de um problema do coração que o impedia de testemunhar no tribunal.

O baixo escalão encerrou suas investigações no ano passado, chegando à conclusão de que houve negligências brutais na administração da Confederação Brasileira de Futebol. Dentre outras irregularidades, foi constatado que a CBF era obrigada a comprar o leite produzido na fazenda de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação. O caso rendeu um processo criminal para Teixeira e mais 31 envolvidos. Mas Teixeira fez alguns telefonemas e teve o direito de processar os promotores públicos que lhe acusavam de tal crime. E por que esse favorzinho não seria atendido? Alega-se que Teixeira tenha bancado a viagem de um mês que cinco juízes e suas esposas fizeram para assistir à Copa do Mundo de 98 — sem contar com as contribuições que fez para campanhas políticas.

A investigação conduzida pelo Senado, concluída há poucos meses, foi mais abrangente. Durou 14 meses e produziu um relatório de 1.600 páginas que descrevem histórias de subornos e fraudes inimagináveis. Segundo as palavras de um dos membros do comitê de investigação: “Nenhuma atividade ilegal deixou de ser investigada”.

Houve a fraude que envolveu uma agência de viagem, na qual a confederação pagou um preço superfaturado para a firma pertencente aos coleguinhas de Teixeira. O comitê do Senado observou que em 1998, ano de Copa do Mundo, a seleção havia viajado demais e a CBF pagou à Stella Barros R$ 2,6 milhões. No ano seguinte, quando as excursões da seleção deveriam ser menos freqüentes, foram gastos R$ 3,1 milhões. E, no ano seguinte, R$ 6,2 milhões. Quando foram exigidas as notas fiscais, ninguém as encontrou.

Teixeira também fez alguns passeios regularmente para a Europa e para os Estados Unidos, incluindo gastos de US$ 1.300 no aluguel de uma limusine e a conta de US$ 14 mil gastos em restaurantes nova-iorquinos.

Foi descoberto que a CBF deve a quantia de US$ 10 milhões, referentes ao período de 1995 a 2000, além de haver provas de que a Confederação está acostumada a fazer lavagem de dinheiro e a sonegar no imposto de renda.

A maior parte do relatório foi dedicada à conduta de Teixeira, que preside a CBF desde 1989 e é sobrinho do antigo presidente da FIFA, João Havelange. Porém, outros capítulos do documento apontaram presidentes de clubes brasileiros famosos, como Flamengo e Vasco da Gama, além de Wanderley Luxemburgo, o técnico da seleção em 98 e 99.

Descobriu-se que Luxemburgo convocou 90 jogadores durante os dois anos de sua gestão não porque desejava treinar profissionais diferentes, mas porque a exposição de tais jogadores na seleção terminaria na assinatura de contratos com clubes internacionais, sendo que os valores dos passes já incluíam uma comissão secreta ‘doada’ ao treinador. A soma dessas comissões explicaria os três milhões de dólares que Luxemburgo não declarou em seus impostos.

O relatório redigido pelo Senado recomendou a abertura de processos criminais para 17 pessoas e, dessa vez, parece que Teixeira e seus comparsas não poderão se safar. O próprio Teixeira admitiu isso em uma reunião com outros chefões do mundo do futebol. A conversa foi registrada por gravadores escondidos e levada ao ar por rádios brasileiras. “Se as acusações do Senado forem aprovadas”, ele diz na fita, “nós estamos ‘ferrados’”.

Mas o que acontecerá se o Brasil for o campeão mundial no domingo? Talvez as acusações sejam esquecidas na euforia do momento. Talvez os políticos e promotores pensem bem e, mesmo vendo que a situação está mais preta do que nunca, decidam deixar a história de lado ao perceberem que no final das contas esse esquema sujo funciona. Sendo assim, o troféu do mundial brilhará no reflexo de águas ainda mais turvas. Sendo assim, o veneno contra cupim não será mais usado, já que a casa ainda está de pé.
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