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Translation - Portuguese A mulher imóvel
Okamoto Kanoko
Quando embarcamos no trem de Odawara para Atami, mais uma vez ficamos juntos com aquele grupo.
Era um grupo de algumas pessoas que, próximo a Shinagawa, haviam entrado pela primeira vez no nosso vagão executivo, que partira de Shinbashi. Tinham uma aparência solene: primeiro entrou um velho senhor com o corpo firmemente envolvido em roupas ocidentais, ao qual seguiu-se uma mulher de uns quarenta anos, mais ou menos, que aparentava ser a esposa e tomava cuidado com as orlas de suas vestes requintadas. Em seguida, uma moça de uns dezenove ou vinte anos que vestia um xale azul, e, depois dela, uma mulher magricela de meia-idade que aparentava ser uma criada e segurava as longas mangas de sua roupa. Depois, três, quatro meninos de mais ou menos dez anos de idade vestindo uniformes escolares embarcaram ruidosamente. Todos, na ordem em que entraram, se sentaram no lado oposto a nós.
Passado pouco tempo, um homem entrou afobado no vagão. Ele parecia ter a mesma idade do senhor de antes e vestia roupas meio velhas. Olhando brevemente, percebi que era o mordomo do grupo. O mordomo falou alguma coisa com o senhor e a esposa e, abaixando a cabeça duas ou três vezes em pedido de desculpas, desceu novamente e voltou, desta vez carregando duas malas enormes e as deixou em seus respectivos lugares. Ele se sentou ao lado do velho senhor numa das pontas do grupo e frequentemente começavam a falar alguma coisa.
A minha atenção se voltava em grande parte para a esposa e a moça, que estavam sentadas bem no meio do grupo. A esposa tinha um rosto longo e convexo muito bem-afeiçoado e esbanjava as costeletas de seu marumague. As golas de seu quimono eram estampadas de forma um tanto discreta para a sua idade, e ela as deixava à mostra em várias camadas sobrepostas. E seu grosso xale de pele, por algum motivo, ela mantinha-o enrolado sobre seu colo.
O rosto da moça era idêntico, uma versão rejuvenescida do rosto dessa senhora. No entanto, suas sobrancelhas mais delicadas, seu queixo menos acentuado, e as bochechas alvas e suaves que se podiam facilmente imaginar haver por baixo de sua maquiagem pesada faziam essa moça parecer um pouco mais reservada que a mulher.
Eu, cansando-me da monotonia da paisagem invernal que acompanhava a linha férrea de Tokaido, por onde já havia passado inúmeras vezes, desencostei a cabeça da janela e comecei a olhar pelo interior do vagão. Mas então, como não havia mais outros passageiros de destaque, por fim, minha atenção acabava sempre se voltando para esse mesmo grupo.
A moça estendia liso seu xale azul, sem que se fizesse uma única ruga, e, da manga da vistosa jaqueta roxa sobreposta a ele e que o segurava pela ponta, podiam-se ver apenas as pontas de seus dedos escondidos, que espiavam como pequenas bolinhas. Seus pés estavam calçados com sandálias com tiras de bordado de cor verde-água, dourado e prateado, e ela os mantinha juntos modestamente pela ponta dos dedos de suas meias, mantendo aí seu olhar abaixado. Com seu pescoço encostado e seu penteado feito num coque tradicional, eu nunca a vi dizer uma única palavra. Ela estava sentada entre a senhora e a criada, e estas às vezes falavam algo entre si em voz baixa. O senhor e o mordomo, por sua vez, continuavam a cochichar entre si como se não se conhecessem. À parte o silêncio destes, as três crianças restantes não pareciam se cansar da bagunça, pois não paravam. E foi dessa mesma maneira que esse grupo veio para o nosso trem de Odawara para Atami.
Era uma tarde de início de inverno. A maré calma e morna e o mar de Sagami, longínquo e gentil, se revelaram diante de nossos olhos enquanto percorríamos a costa de Odawara.
– “Ah!”, disseram as crianças, silenciando completamente a barulheira que faziam até então.
– “Ah!”, também nós nos admiramos, e, apoiando as duas mãos na janela, nossos olhos foram tomados pelo horizonte infinitamente distante.
O trem, iluminando um a um os beirais baixos de umas casas escuras que mais pareciam abandonadas, logo entrou num vilarejo à beira-mar, onde se viam laranjas frescas aos montes.
– “Aaah! Laranjas, laranjas! Um monte de laranjas!”, se espantavam e se alegravam as crianças. E nós também.
O trem seguiu e entrou em Izu. Era um dourado abundante de laranjas maduras e amontoadas! Mais e mais nós soltávamos vozes de espanto e admiração.
– “Dez sen de laranja, por favor.”
Tomando interesse pela degustação, como em uma prova de saquês, de estação em estação, nós compramos laranjas de umas mulheres que carregavam cestos, e as comemos e comparamos. Comíamos sem cansar enquanto nossos lábios se coloriam de laranja e quase sufocávamos no forte aroma de laranjas recém-colhidas. As crianças também nos imitavam. E o mordomo também havia se juntado às crianças, tendo se afastado do velho senhor, que cochilava levemente.
Mas, o tempo inteiro, a moça permaneceu imóvel. Em seu semblante calmo não havia sinal de cansaço nem traço de grande preocupação. Entre as cortinas puxadas para bloquear quaisquer interferências do mundo exterior, só um vazio pairava tenuemente sobre suas bochechas e sua testa pálidas. E a senhora e a criada, que guardavam a extremidade sul da cortina, às vezes sussurravam baixinho.
– “Aaah! O mar está todo vermelho ao pôr do sol!”, exclamei eu exageradamente, tomada por uma certa impaciência.
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Bachelor's degree - Federal University of Rio de Janeiro
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Years of experience: 9. Registered at ProZ.com: Feb 2023.
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Bio
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Translation services for Portuguese, English, Japanese, and Spanish, 5+ years of experience.
Native Brazilian Portuguese speaker, fluent in English (Michigan Certificate of Proficiency in English) and Japanese (JLPT N1, score: 167/180).
Bachelor's and Teaching degree in Language Studies, Literature and Linguistics (Portuguese and Japanese), completed at the Federal University of Rio de Janeiro, in January 2023. GPA: 9.5/10. Graduated with maximum honors (Summa cum laude diploma). Studied in Japan from 2020 to 2021 and currently work in Japan since 2023.
Awarded an honorable mention for the Portuguese translation of Okamoto Kanoko's 「動かぬ女」('Ugokanu onna') at the First Bunkyo Translation Contest (Japanese-Portuguese), in 2022.