Off topic: Fora gerundismo!
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Jan 11, 2004

Todos nós que vivemos no Brasil já fomos vítimas de algum colega que, ao traduzir os manuais de treinamento de equipes de teleatendimento, criou o monstrinho do gerundismo, aquele que faz com que as pessoas fiquem dizendo "eu vou estar fazendo", em vez de "farei" ou, no máximo, "vou fazer". Em conseqüência, ensinaram aos pobres teleatendentes que devem usar três verbos, em tempos diferentes (presente+infinitivo+gerúndio, na maior parte dos casos), em lugar de um ou dois. Extremamente d... See more
Todos nós que vivemos no Brasil já fomos vítimas de algum colega que, ao traduzir os manuais de treinamento de equipes de teleatendimento, criou o monstrinho do gerundismo, aquele que faz com que as pessoas fiquem dizendo "eu vou estar fazendo", em vez de "farei" ou, no máximo, "vou fazer". Em conseqüência, ensinaram aos pobres teleatendentes que devem usar três verbos, em tempos diferentes (presente+infinitivo+gerúndio, na maior parte dos casos), em lugar de um ou dois. Extremamente desagradável, e aproveito para trazer-lhes o artigo do Ricardo Freire, publicado na revista "Época" de 29 de dezembro último:


EM 2004, GERUNDISMO ZERO!

As reformas passaram. Os juros começaram a cair. A indústria voltou a contratar. As vendas melhoraram um pouquinho. Já dá para comemorar? Não. Existe um grande perigo por trás de tudo isso. O que? Não, não é a volta da inflação. Refiro-me à bolha do gerundismo.

Pense bem: quanto maior é a atividade econômica, mais negócios são fechados. Mais telefonemas são dados. Como conseqüência, mais gente tem a oportunidade de dizer coisas como: "Nós vamos estar analisando os seus dados e vamos estar dando um retorno assim que possível". Ou: "Pra sua encomenda tá podendo tá sendo entregue, o senhor precisa tá deixando o nome de uma pessoa pra tá recebendo pelo senhor".

Pára! Pára tudo! Não é para isso que a gente se sacrificou este ano inteiro. Crescimento, sim. Gerundismo, não! Mais do que nunca, precisamos nos mobilizar. Cada um de nós deve ser um agente sanitário eternamente a postos para exterminar esta terrível praga que se propaga pelo ar, pelas ondas da TV e pelas redes telefônicas.

E só existe uma forma de descontaminar um gerundista crônico: corrigindo o coitado. Na chincha. Com educação, claro. Por incrível que pareça, ninguém usa o gerundismo para irritar. Quando a teleatendente diz "O senhor pode estar aguardando na linha, que eu vou estar transferindo a sua ligação", ela pensa estar falando bonito. Por sinal, ela não entende por que "eu vou estar transferindo" é errado e "ela está falando bonito" é certo. O que só aumenta a nossa responsabilidade como vigilantes e educadores.

O importante é nunca deixar barato. Se alguém vier com gerundismo para cima de você, respire fundo - e eduque a criatura. "Não, eu não posso TÁ ASSINANDO aqui. Mas, se você quiser, eu posso ASSINAR aqui, com o maior prazer." "Não, minha filha. Eu não vou TÁ EXPERIMENTANDO nada em provador nenhum. Eu vou é trocar de loja!"

Se você tiver habilidades de professor, pode ir mais fundo: "Desculpa. Não é 'a gente pode tá liberando o seu carro no sábado'. Você não deve usar nunca o verbo estar, no infinitivo, combinado com um verbo no gerúndio. O certo é 'a gente pode liberar o seu carro no sábado'. Entendeu?" O sujeito vai continuar sem entender nada e, depois dessa, provavelmente o seu carro nem fique pronto no sábado - mas é um preço que vale a pena pagar por uma sociedade sem gerundismo.

Toda atenção é pouca. Nesse período de tolerância zero com o gerundismo, precisamos evitar até mesmo os casos em que o "vou estar fazendo" esteja certo. Por exemplo, em vez de dizer "Não ligue agora para o seu tio, porque ele pode estar jantando" - o que é perfeitamente correto -, diga: "Não ligue agora para o seu tio, porque é hora do jantar".

O governo poderia fazer de 2004 o Ano Oficial do Combate ao Gerundismo. Um bom começo seria proibir o gerundismo em todas as declarações do Executivo (presidente: metáfora, tudo bem. Gerundismo, não!). Gerundismo poderia dar pontos na carteira de motorista. Poderia aumentar a alíquota do Imposto de Renda do infrator. As universidades públicas poderiam inovar o sistema de cotas. Que tal: 100% das vagas para não-gerundistas ?!!

Ainda estamos longe da erradicação do analfabetismo. Mas o fim do gerundismo só depende de nós. Não vamos nos dispersar!
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Fora gerundismo!






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